Estão todos os colegas me olhando e chegou a hora de fazer o discurso! O momento é esse. Mas espere só um minuto! Talvez eu não saiba sobre esse assunto tão bem assim. Será que eu me preparei o suficiente? Eu não sei tudo e sempre tem alguém para fazer uma pergunta mais profunda. E se eu gaguejar logo de primeira? Ou se começar bem e logo depois começar a engasgar? Medo.
Se você já passou por momentos como esse, esse texto é para você. Essas e outras dúvidas gritando em nossa mente quase que impostas como certezas pelo inconsciente começam a surgir em nossa cabeça desembestada como uma enxurrada na primeira pessoa do singular.
Uma sensação estranha, mas que a gente conhece muito bem. A sensação começa a tomar conta do nosso corpo e mais e mais perguntas vão surgindo, tão rápidas que não dá tempo nem de responder uma sequer. São apenas dúvidas: será que dessa vez essa sensação vai passar?
Frio na barriga que chama!
O tal frio na barriga é mais comum do que imaginamos. Inclusive é de se admirar quando descobrimos que até atores como Marco Nanini sentem o famoso frio na barriga mesmo depois de anos de experiência. O grande lance é que não há problema algum em sentir medo e sim, em viver sentindo medo de sentir medo. Captou a ideia?!
Grande parte das pessoas que se dizem medrosas ou inseguras não percebem que têm essa fixação que as fazem sofrer antes da hora. O sofrimento é por algo que elas nem sabem se vai acontecer de fato. O que eu poderia dizer a uma pessoa que se sente assim é: PARE COM ISSO!
Mas como? Um bom começo é não ter receio de escutar ou ler coisas como essa. Coisas que trazem um certo desconforto. Apenas perceba que é possível parar, então pare. É mais simples do que fácil, mas é possível. É prática! Outro importante passo a se dar quando se sente muito medo a ponto de ficar paralisado é refletir se somente o fato de pensar nisso já não traz um medo de não conseguir parar com isso.
Há um medo anterior àquele que surge em situações de risco, onde é positivo ter medo. O medo que é preciso combater, não é aquele que faz aparecer o frio na barriga. Grandes pessoas realizam coisas apesar do medo. Ao tirarmos uns minutinhos para buscar entender o mecanismo por trás do medo, chegaremos na seguinte ideia: todo mundo tem um medo, mesmo aquelas pessoas que fazem questão de esconder isso.
Muitas vezes a insegurança de falhar ou a insegurança de parecer ser uma pessoa insegura é tanta que a pessoa nem percebe que tem esse tipo de medo. A menos que a pessoa seja portadora da rara síndrome chamada Urbach-Wieth em estágio avançado, ela terá medo. Aquelas pessoas que não são consideradas medrosas também sentem medo e insegurança. O medo é uma emoção e não controlamos nossas emoções, mas essas pessoas sabem controlar seu comportamento diante das emoções e administrar seus efeitos.
A importância do medo
Nossos antepassados sentiram muito medo. Se não fosse assim, a humanidade já teria desaparecido do planeta há tempos. É sabido pela ciência que é o medo que nos coloca em estado de alerta e nos prepara para lutar ou fugir diante de uma ameaça, seja ela real ou imaginária. Sem o medo, nos colocaríamos ou não evitaríamos situações de risco.
Ver um tigre saindo de um arbusto ao caminharmos por aí não faz mais parte de nossa realidade. No entanto, nós, frágeis humanos, temos reações fisiológicas parecidas com a de nossos antepassados em situações de riscos. Hoje esses riscos estão mais relacionados aos relacionamentos, mundo dos negócios, carreira, etc.
O que parece incomodar muita gente é o desconforto associado principalmente pela adrenalina que corre nas nossas veias. Nossas glândulas suprarrenais, sistema límbico e outras estruturas do nosso corpo trabalham independentemente de nossa vontade consciente.
Nossos genes selecionados a partir das adaptações e seleção natural de nossos antepassados ainda nos traz essas reações parecidas com as que eles sentiam. Nosso corpo reage inconscientemente. Ainda temos os reflexos quando um situações inusitadas acontecem no trânsito, por exemplo, ou em um acidente doméstico.
Mas nos sentimos mais constrangidos naquele instante que, por puro medo do que as pessoas irão pensar de nós, agimos de uma tal maneira que não nos ajuda muito. Acontece também por causa de uma resposta que não vem na hora que deveria vir, uma situação negligenciada por imaginarmos as consequências ou alguma situação, onde qualquer decisão que tomemos terá consequências as quais não temos ideia do que irá acontecer. Dá medo! Normal.
O medo a nosso favor
Se até o tédio nos faz mudar comportamentos que dirá o medo. Nós somos seres muito mais irracionais do que supomos. Há quem estude esses padrões irracionais como o professor de psicologia e economia comportamental Dan Ariely. Nesse vídeo ele fala um pouco de autocontrole.
Nosso cérebro é quem toma decisões e a sua formação está ligada com variáveis múltiplas. A estrutura emocional que sustenta essas decisões geralmente é inconsciente. Crenças que muitas vezes nem sabemos que temos. Conhecer esses mecanismos são um passo importante para alterarmos alguns padrões em nossas vidas.
Algumas crenças não são verbalizadas como a do tipo “manga com leite faz mal”. Algumas sutilmente moldam nossos comportamentos e a estrutura emocional por trás disso às vezes é tão profunda e potente, que podem ser chamadas de fobias ao invés de medo. Aqui mora um perigo muito grande! Vários traumas podem afetar a estrutura emocional de alguém ao ponto de limitá-la a fazer coisas simples e cotidianas.
Um exemplo comum é piscina: há pessoas que não conseguem simplesmente entrar, mesmo sabendo que há altura suficiente para ficar em pé com a cabeça para fora! Perceba que é um medo totalmente irracional e, portanto, intrinsecamente ligado a fatores emocionais.
Você tem ou conhece alguém com um medo ou fobia paralisante? No teste abaixo, a partir de imagens, você poderá entrar em contato com seu maior medo. Será que dá certo? Eu fiz o teste e deu certo! Topa?
O teste é bobinho, mas interessante. Conhecer a si não é possível apenas fazendo um teste simples como esse, mas em uma caminhada constante. A boa notícia é que, caso queira conhecer mais sobre seus medos, você está no caminho certo.
Deixo um alerta: Caso seu medo seja muito grande, a ponto de chamá-lo de pavor, se te atrapalha a ponto de te trazer prejuízos sociais e/ou materiais, não hesite! Procure ajuda profissional!